Zumbido no ouvido e tontura, qual a relação?
Dra Elaine Miwa Watanabe é médica otorrinolaringologista pesquisadora em zumbido no ouvido
Pode existir relação entre zumbido e tontura?
Sim e por vários motivos! Para começar, anatomicamente, a via auditiva e a via labiríntica são vizinhos. Além disso, essas duas vias compartilham o mesmo nervo, que é o VIII para craniano. Esse nervo se chama vestibulococlear.
O que é zumbido no ouvido?
Zumbido é a percepção de um som ou ruído na ausência de um estímulo sonoro. Ou seja, o som que a pessoa está ouvindo não vem do ambiente em que ela está e sim de dentro do ouvido ou da cabeça.
O que é tontura?
É muito difícil a caracterização de tontura, apesar de ser uma queixa comum. Comumente ouvimos a queixa de “labirintite” como sinônimo de tontura e não é. Nesse sentido, o termo “labirintite” é referente a uma doença de causas e manifestações específicas.Já a tontura, é referente a sensação de orientação espacial “desajustada”. Desse mesmo modo, é comum a queixa “parece que estou pisando em ovos” ou “tenho a sensação que estou andando igual a um bêbado”.
Vertigem é diferente de tontura?
Sim! Embora no palavreado popular tontura, vertigem e “labirintite” sejam usados como sinônimos, tecnicamente são diferentes. Nesse caso, vertigem seria a falsa sensação de rotação ou de movimento, mas o corpo está parado. Ou seja, o paciente costuma referir que na crise parece estar tudo girando ou rodando.
Quem tem zumbido no ouvido tem também labirintite?
Zumbido e labirintite não são sinônimos. Consequentemente, embora possam aparecer juntos, não necessariamente quem tem zumbido evoluirá para labirintite. Isso vale também para tontura ou vertigem e zumbido. Por outro lado, existe uma condição chamada Síndrome ou Doença de Menière em que é comum a coexistência de tontura e zumbido.
O que é Síndrome ou Doença de Menière?
Trata-se de crises de vertigem com duração de minutos a horas com perda auditiva e zumbido associados. Isso ocorre por um aumento da pressão de líquido chamado endolinfa, que está presente dentro do ducto coclear (ou seja, dentro do aparelho auditivo) e também dentro do labirinto. Por isso pode dar tanto sintomas auditivos como labirínticos.
Como é o zumbido na Síndrome de Menière?
No início, nas crises de tontura, o zumbido e a perda auditiva são flutuantes. Ou seja, pode ocorrer da pessoa ter a sensação de ouvido tampado, com ou sem zumbido, e depois da crise a sensação de perda auditiva melhora. Inclusive, pode ocorrer da perda auditiva aparecer em um exame de audiometria e quando a pessoa faz outra, a audiometria pode se apresentar normal. Frequentemente, os tipos de zumbido mais relatadados são chiado e apito.
Características da perda auditiva da Doença de Menière
Geralmente, a perda se inicia em frequências graves e médias e uma característica bem comum é a tendência em “U” invertido. Isto é, no desenho do gráfico da curva tonal da audiometria, forma-se uma figura semelhante à uma ferradura ou o que chamamos de “U” invertido. Desse modo, o médico observa que ao longo dos anos, a perda auditiva vai adquirindo esse aspecto.
Quem pode ter doença de Menière?
É mais comum em adultos jovens e embora raro, pode aparecer em crianças ou idosos.Contudo, pode estar associada a outros fatores como história familiar, genética, migrânea e doenças autoimunes. A variabilidade é muito alta, podendo ter manifestações uni ou bilaterais.
Como é o diagnóstico?
O diagnóstico é essencialmente clínico.Por isso é essencial a avaliação de um otorrinolaringologista, que é o médico que cuida da saúde auditiva e do labirinto.
O que ver no exame de sangue?
Exames laboratoriais ajudam o médico a verificar alterações metabólicas, hormonais e possíveis alterações que não necessariamente sejam a causa específica do zumbido porém podem piorar o incômodo do zumbido e tontura. Distúrbios do metabolismo do açúcar por exemplo tem potencial de causar lesões microscópicas no ouvidos que podem levar ao aparecimento do zumbido. Leia mais sobre zumbido, açúcar e metabolismo.
Existem exames específicos para Menière?
Existem alguns exames eletrofisiológicos e até protocolos de imagem que podem ajudar na investigação. Porém, não são mandatórios. Como o diagnóstico é clínico, não há obrigatoriedade em fazer todos esses exames. Ainda assim, existe mais um fator que pode ser um importante confundidor: o fato do exame estar normal, não significa que a pessoa já possa ter a Doença de Meniére. Portanto, é fundamental a avaliação do médico, em geral o otorrinolaringologista.
O que é eletrococleografia?
É um exame que pode ajudar no raciocínio clínico do médico que está suspeitando de hidropsia vestibular. Comumente, com o Egog é possível encontrar uma alteração mas nem sempre é verdadeira porque existem uma porcentagem de falsos positivos e negativos. Dessa forma, o fato desse exame estar normal, não exclui a possibilidade de ter a doença.
Como é o tratamento?
Existem medicações que podem ajudar nas crises. Mas a parte mais importante do tratamento não é o medicamentoso. Nesse sentido, uma vida equilibrada em todos os sentidos pode reduzir os possíveis gatilhos da evolução da doença. Pensando nisso existem uma série de fatores podem ajudar. Começando com uma boa hidratação, alimentação de qualidade (incluindo frutas, verduras, saladas, grãos), um bom sono, atividade esportiva. E também: evitar o estresse, cortar fumo, álcool e xantinas (café, chocolate), doces e cuidar da saúde de uma forma geral fazendo exames de “check up” anualmente.
Como é o tratamento do zumbido no ouvido?
Além das medidas de controle da hidropsia citadas acima, com a progressão da perda auditiva pode ser recomendado o uso do aparelho auditivo, próteses ancoradas e implante coclear. Então, não deixe de cuidar da sua saúde auditiva. Procure o otorrinolaringologista.
O zumbido pode mudar?
Sim, o zumbido pode mudar. Além de ser possível o indivíduo ter mais de um zumbido, é possível que o som mude também. Em alguns casos a pessoa pode relatar que era tipo chiado e que passou a ser um apito por exemplo. Ademais, para algumas pessoas pode ocorrer até mesmo de um som sobrepor a outros em alguns momentos. Assim, sabemos que o zumbido pode aumentar, diminuir ou até mesmo sumir e voltar ao longo do dia. Chamamos a esse fenômeno de modulação, isto é, o som do zumbido pode sofrer mudanças de uma hora para outra. Com tudo isso, som mais alto ou mais baixo, ter mais de um zumbido, nada disso representa maior ou menor gravidade. Daí a importância da investigação da causa do aparecimento do zumbido.
Tratamento de zumbido é tudo igual?
O tratamento de zumbido no ouvido não é o mesmo para todo mundo. Assim como as causas são diferentes, o tratamento também muda de uma pessoa para outra. Mesmo que o zumbido seja igualmente percebido como um chiado por exemplo, não quer dizer as causas sejam as mesmas. Tenha muito cuidado com receitas milagrosas que vemos todos os dias se espalhar nas redes sociais. É comum o relato de pessoas que pioraram o zumbido com essas “super dicas infalíveis” ou que tomou o remédio que foi bom para outra pessoa. Procure o otorrinolaringologista especialista em zumbido no ouvido ou o médico que tenha experiência em tratar zumbido no ouvido.
Bibliografia:
- Zumbido.Oiticica J, Mezzalira R, Cassou R, Bittar R (EE). Thieme Revinter. 2022. 1ª edição.
- Site Tinnitus Iniative Research: Diagnostic Flowchart. Disponível em<https://www.tinnitusresearch.net/index.php/for-clinicians/diagnostic-flowchart> 2023.
- Imagens Pixabay
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